quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Julinho de Adelaide

Julinho de Adelaide
Nasceu no Rio de Janeiro, em 19 de junho de 1944, mas sua família mudou-se para Sâo Paulo quando tinha dois anos, foi morar no Rio apenas em 1970, após seu exílio na Itália.
Cantor, compositor, escritor e dramaturgo e tricolor de coração lançou mais de 40 álbuns, 8 livros, 4 peças e 5 filmes, é considerado por muitos como um dos maiores artistas brasileiros, neste ano ganhou com Leite Derramado o Prêmio Portugal Telecom de Literatura e ganhou pela 3º vez o Prêmio Jabuti como melhor livro do ano.
Estou falando de Chico Buarque de Holanda, que usou o pseudônimo de Julinho de Adelaide para fugir da censura na época da ditadura, é considerado por muitos como o símbolo da resistência cultural contra a falta de liberdade que tomou conta do país naquele período. Através da obra de Chico Buarque é possível enxergar um país eufórico com a modernidade dos “Anos Dourados”, da década de 50; saudoso com o final do sonho de desenvolvimento, do início dos anos 60; criativamente rebelado contra a falta de liberdade imposta pelo regime militar, a partir de 1964; ainda não muito confiante com o final da ditadura e o processo de redemocratização, na década de 80. E, depois disso, surpreendentemente silencioso com a concretização do sonho da democracia.
Abaixo vou colocar um pouco da história de suas música:

Construção - conta a história do brasileiro trabalhador, flagrado em sua pequenez, flagrado em seu sufoco diante das grandes estruturas de poder que se formavam no começo dos anos 70, flagrado em sua impossibilidade de ação.
Apesar de Você – foi escrita por Chico ao chegar do exílio, uma leitura menos atenta da música permite que seu tema seja identificado como uma briga de namorados, e talvez tenha sido por esse motivo que a composição passou tão facilmente pela censura. A música é uma crítica ao governo do presidente Emílio Garrastazu Médici. “ Apesar de você, amanhã há de ser outro dia”
Vai Passar - Em 1983 Chico Buarque compõe o samba Vai passar, que no ano seguinte, se tornaria uma referência na campanha pelas "Diretas já", da qual participa ativamente. “Dormia, A nossa pátria mãe tão distraída,Sem perceber que era subtraída,Em tenebrosas transações”.
Meu Caro Amigo - Uma das canções de Chico Buarque que criticam a ditadura é uma carta em forma de música, uma carta musicada que ele fez em homenagem ao Augusto Boal, que vivia no exílio, quando o Brasil ainda vivia sob a ditadura militar. “Meu caro amigo eu bem queria lhe escrever, Mas o correio andou arisco, Se me permitem, vou tentar lhe remeter, Notícias frescas nesse disco - Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta”
Chico foi um artista visionário, suas letras passam pela crítica à sociedade, ao governo, a falta de liberdade, as músicas infantis até chegar a ser considerado como um dos artistas que melhor conseguiu enxergar a ama da mulher. Canções como Meu Guri (Chega no morro com o carregamento, Pulseira, cimento, relógio, pneu, gravador...) feitas em 1981 e que se encaixam perfeitamente nos dias atuais. Poderia colocar dezenas de músicas aqui, contando suas histórias e relembrando suas letras, mais o universo de Chico é tão grande que seria impossível falar sobre tudo.

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"As letras de suas músicas recendem a poesia, esquadrinham a alma humana, pinçam Deus e o diabo nos detalhes, e subvertem a lógica e o sistema. (...) Na literatura (...) sua antimensagem é um convite ao mais profundo do nosso ser, lá onde o discurso se cala e a intuição passeia de mãos dadas com sua irmã gêmea – a inteligência. (...) Chico é todo ele palavra".
Frei Betto, Chico Buarque do Brasil

4 comentários:

  1. Um gênio.
    Sem medo de parecer exagerado por conta de minha idolatria, chego a comparar Chico (dentro de sua arte) a Da Vinci, a Michelangelo ou a Mozart.
    Em minha opinião, dentro do meu limitado universo musical, escrevendo suas música ele é incomparável.
    Tão improvável como imaginar alguém compor uma sinfonia como Mozart, pintar uma Monalisa ou a Capela Sistina, é pensar como se pode criar versos tão magníficos.
    Chico tem o dom de pensar como homem ou como mulher de acordo com o que lhe convir.
    Ou como elas mesmas falam, nunca um artista demonstrou de forma tão bela a alma da mulher.
    Em meio a tantas amebas coloridas e a falsos ídolos, sinto falta de sua voz ou de sua palavra para me explicar com poesia todas as angustias e alegrias que sinto.

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  2. “Por me deixar respirar, por me deixar existir: Deus lhe pague." - Deus lhe Pague.
    "Talvez o mundo não seja pequeno, nem seja a vida um fato consumado" - Cálice
    "Se nas travessuras das noites eternas, já confundimos tanto as nossas pernas, diz com que pernas eu devo seguir" – Eu te amo
    “A saudade é o revés de um parto. A saudade é arrumar o quarto do filho que já morreu" - Pedaço de mim
    “Se eu só lhe fizesse o bem, talvez fosse um vício a mais" - Injuriado
    “E me vingar a qualquer preço, te adorando pelo avesso, só pra provar que ainda sou tua” – Atrás da Porta
    “Puxa que vida comprida! Pra que tanta vida para a gente desanimar?” – Umas e outras
    “Quando, seu moço, nasceu meu rebento não era o momento dele rebentar. Já foi nascendo com cara de fome e eu não tinha nem nome para lhe dar” – Meu Guri
    “Olhos nos olhos - quero ver o que você faz ao sentir que sem você eu passo bem demais. (...) E tantas águas rolaram, tantos homens me amaram bem mais e melhor que você.” – Olhos nos olhos
    “Mas se a vida mesmo assim não melhorar, os beatos vão largar a boa fé. E as paróquias com seus santos tudo fora de lugar; santo que quiser voltar para casa só se for a pé.” – A Permuta dos Santos
    O que será, que será que todos os avisos não vão evitar? Por que todos os risos vão desafiar? Por que todos os sinos irão repicar? Por que todos os hinos irão consagrar?
    E todos os meninos vão desembestar? E todos os destinos irão se encontrar?” – O que será? (à flor da terra)
    “Quando eu morrer, que me enterrem na beira do chapadão - contente com minha terra,
    cansado de tanta guerra, crescido de coração” - Assentamento
    “Eu quero fazer silêncio um silêncio tão doente do vizinho reclamar”. – Agora Falando Sério
    “Gente que carrega a tralha, ai essa tralha imensa chamada Brasil” – Linha de Montagem
    "Se na bagunça do seu coração, meu sangue errou de veia e se perdeu!"
    “Hoje eu tenho apenas uma pedra no meu peito, exijo respeito, não sou mais um sonhador" - Samba do Grande Amor

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Fantástico!!!
    Chico Buarque é um dos mitos da história de mundial. Sua inteligência na construção de pensamentos, senso crítico, humildade de uma lenda, dentre tantas qualidades. Impossivel no meu limitado português encontrar palavras que transcrevam a imensidão de sua música.

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