Nesta semana o Governador Sérgio Cabral abriu os debates para um tema polêmico e extremamente delicado: o aborto.
Eis o resumo de sua declaração:
"Será que está correto um milhão de mulheres todo ano fazerem o aborto, talvez mais, em que situação, de que maneira? Não vamos enfrentar, então está bom. Então o policial na esquina leva a graninha dele, o médico lá topa fazer o aborto, a gente engravida uma moça – eu não porque já fiz vasectomia e sou bem casado – mas engravidou... Quem é que aqui não teve uma namoradinha que teve que abortar?"
Apesar da ridícula pergunta no final de sua declaração, creio que já está mais do que na hora de se debater esse assunto, sem que seja levado para o lado eleitoreiro.
Atualmente, o aborto somente pode ser realizado quando não há outro meio de salvar a vida da mãe ou quando é decorrente de estupro.
Mas enquanto isso, o Ministério da Saúde diz que acontecem entre 729 mil a 1,25 milhão de abortos por ano no Brasil. A esmagadora maioria feita em clinicas clandestinas.
Destes, no mínimo 250 morrem e 1/3 procuram assistência hospitalar devido aos transtornos gerados no organismo, seja por introdução de objetos na vagina para matar o feto, uso inapropriado de medicação abortiva ou expulsão incompleta.
E essa questão se tornou um caso gravíssimo de saúde pública.
Uma pesquisa realizada pelo instituto Vox Populi para a revista Carta Capital e para a Rede Bandeirantes indica que 16% da população acha que o aborto deve ser garantido em caso de gravidez indesejada, enquanto 76% concorda com o interrompimento da gravidez de risco.
Mas em qualquer discussão há opiniões sensatas dos dois lados. Não é raro concordarmos com argumentos diferentes.
Os que são contra usam principalmente o argumento de que é a favor da vida, e que o aborto não passa de assassinato.
E também que cada um deve ser responsável por seus atos, afinal, com tantos métodos contraceptivos existentes, engravida quem quer.
Os que são a favor dizem que a mulher deve ter direito ao próprio corpo e decidir sobre a própria vida.
Além disso, dizem para se pensar na questão financeira, sentimental e mental da mulher.
Outra questão que até hoje não foi respondida é a partir de quando o feto pode ser considerado um ser vivo.
Na área médica encontra-se todo tipo de opinião mas nenhuma constatação.
Cabral tem ainda outro argumento bastante polêmico, mas que faz sentido:
"Tem tudo a ver com violência. Você pega o número de filhos por mãe na Lagoa Rodrigo de Freitas, Tijuca, Méier e Copacabana, é padrão sueco. Agora, pega na Rocinha. É padrão Zâmbia, Gabão. Isso é uma fábrica de produzir marginal",
Mas até quando é certo esse tipo de controle de natalidade?
Mesmo não tendo competência ou dados para embasar uma opinião em um assunto tão complexo, acredito que cada caso deveria ser julgado separadamente levando em conta e até mesmo em conjunto os seguintes aspectos: Saúde, financeiro, e psicológico.
Trazer uma criança ao mundo para viver na dificuldade, passando fome ou com sérias deficiências, passa a ser tão desumano quanto o aborto.
Haveria de se pensar em um prazo limite, por exemplo, em Portugal onde o aborto é legalizado, ele só pode ser feito até 12 semanas de gestação e 24 semanas em caso de risco a saúde da mulher.
Por outro lado,eu sei que a dificuldade de se analisar caso a caso e a provável banalização do procedimento acabam abalando minhas certezas.
É verdade, o assunto é tão difícil que minhas opiniões se contradizem.
Mas espero que haja um debate sério sobre isso.
E principalmente um debate técnico, sem qualquer intervenção da Igreja.
Não se pode mais aceitar que a religião com seus pensamento arcaicos e egoístas se meta nos assuntos do Estado e na vida das pessoas.
Caso contrário, deixa como está pra não piorar.
Paulo César,
ResponderExcluirEste assunto realmente merece uma ampla discussão sobre, alguns paradigmas precisam ser quebrados para que possamos avançar nesta questão. Boa postagem para discussão.