Em tempos de perigosas
tentativas de retrocesso nos direitos dos cidadãos, um tema que tem sido muito
abordado é a redução da maioridade penal. Um debate que tem extrapolado o bom
senso. Tenho uma série de motivos para ser contra, a ânsia por mais punição reflete uma sociedade imediatista, que não se preocupa com as causas da violência juvenil. De
punir jovens e coloca-los dentro de um sistema carcerário medieval que em nada
vai permitir a sua recuperação e inserção novamente a sociedade após o cumprimento
de sua pena.
Hoje já responsabilizamos
os jovens a partir dos 12 anos, qualquer adolescente é responsabilizado pelo
ato cometido contra a lei. Essa responsabilização, executada por meio de
medidas socioeducativas previstas no ECA, têm o objetivo de ajudá-lo a recomeçar
e a prepará-lo para uma vida adulta de acordo com o socialmente estabelecido. É
parte do seu processo de aprendizagem que ele não volte a repetir o ato
infracional. Por isso, não devemos confundir impunidade com imputabilidade. A
imputabilidade, segundo o Código Penal, é a capacidade da pessoa entender que o
fato é ilícito e agir de acordo com esse entendimento, fundamentando em sua
maturidade psíquica.
Porque
a lei já existe. Resta ser cumprida. O ECA prevê seis medidas educativas: advertência, obrigação de
reparar o dano, prestação de serviços à comunidade, liberdade assistida,
semiliberdade e internação. Recomenda que a medida seja aplicada de acordo com
a capacidade de cumpri-la, as circunstâncias do fato e a gravidade da infração.
Muitos adolescentes, que são privados de sua liberdade, não ficam em
instituições preparadas para sua reeducação, reproduzindo o ambiente de uma
prisão comum. E mais: o adolescente pode ficar até 9 anos em medidas
socioeducativas, sendo três anos interno, três em semiliberdade e três em
liberdade assistida, com o Estado acompanhando e ajudando a se reinserir na
sociedade. Não adianta só endurecer as leis se o próprio Estado não as cumpre!
O
sistema prisional brasileiro não suporta mais pessoas. O Brasil tem a 4° maior
população carcerária do mundo e um sistema prisional superlotado com 500 mil
presos. Só fica atrás em número de presos para os Estados Unidos (2,2 milhões),
China (1,6 milhões) e Rússia (740 mil). O sistema penitenciário brasileiro NÃO
tem cumprido sua função social de controle, reinserção e reeducação dos agentes
da violência. Ao contrário, tem demonstrado ser uma “escola do crime”. Portanto,
nenhum tipo de experiência na cadeia pode contribuir com o processo de
reeducação e reintegração dos jovens na sociedade.
Porque reduzir a maioridade penal não
reduz a violência. Muitos estudos no campo da criminologia e das
ciências sociais têm demonstrado que NÃO HÁ RELAÇÃO direta de causalidade entre
a adoção de soluções punitivas e repressivas e a diminuição dos índices de violência.
No sentido contrário, no entanto, se observa que são as políticas e ações de
natureza social que desempenham um papel importante na redução das taxas de
criminalidade. Dados do Unicef revelam a experiência mal sucedida dos EUA. O
país, que assinou a Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança,
aplicou em seus adolescentes, penas previstas para os adultos. Os jovens que
cumpriram pena em penitenciárias voltaram a delinquir e de forma mais violenta.
O resultado concreto para a sociedade foi o agravamento da violência.
As
leis não podem se pautar na exceção. Até junho de 2011, o Cadastro Nacional de
Adolescentes em Conflito com a Lei (CNACL), do Conselho Nacional de Justiça,
registrou ocorrências de mais de 90 mil adolescentes. Desses, cerca de 30 mil
cumprem medidas socioeducativas. O número, embora seja considerável,
corresponde a 0,5% da população jovem do Brasil, que conta com 21 milhões de
meninos e meninas entre 12 e 18 anos. Sabemos que os jovens infratores são a
minoria, no entanto, é pensando neles que surgem as propostas de redução da
idade penal. Cabe lembrar que a exceção nunca pode pautar a definição da
política criminal e muito menos a adoção de leis, que devem ser universais e
valer para todos. As causas da violência e da desigualdade social não se
resolverão com a adoção de leis penais severas. O processo exige que sejam
tomadas medidas capazes de romper com a banalização da violência e seu ciclo.
Ações no campo da educação, por exemplo, demonstram-se positivas na diminuição
da vulnerabilidade de centenas de adolescentes ao crime e à violência. As causas da violência e da desigualdade social não se resolverão com adoção de leis penais mais severas. O processo exige que sejam tomadas medidas capazes de romper com a banalização da violência e seu ciclo. Ações no campo da educação, por exemplo, demonstram-se positivas na diminuição da vulnerabilidade de centenas de adolescentes ao crime e à violência. Precisamos valorizar o jovem, considerá-los como parceiros na caminhada para a construção de uma sociedade melhor. E não como os vilões que estão colocando toda uma nação em risco. Estes
são alguns dos motivos para que eu seja contra a maioridade penal, e antes que
venham os a favor, lembro que estou apenas emitindo uma opinião pessoal,
inerente a minha pessoa e não irão mudar minha opinião com o ódio vociferado
pelas redes. Porque poder
votar não tem a ver com ser preso com adultos. O
voto aos 16 anos é opcional e não obrigatório, direito adquirido pela
juventude. O voto não é para a vida toda, e caso o adolescente se arrependa ou
se decepcione com sua escolha, ele pode corrigir seu voto nas eleições
seguintes. Ele pode votar aos 16, mas não pode ser votado. Nesta
idade ele tem maturidade sim para votar, compreender e responsabilizar-se por
um ato infracional. Em
nosso país qualquer adolescente, a partir dos 12 anos, pode ser
responsabilizado pelo cometimento de um ato contra a lei. O
tratamento é diferenciado não porque o adolescente não sabe o que está fazendo.
Mas pela sua condição especial de pessoa em desenvolvimento e, neste sentido, o
objetivo da medida socioeducativa não é fazê-lo sofrer pelos erros que cometeu,
e sim prepará-lo para uma vida adulta e ajuda-lo a recomeçar.
E antes que venham inflamar a discussão, lembro que esta iniciativa foi tomada pela Câmara dos Deputados, que anda desencavando as maior onda de retrocesso que pude observar em minha vida. Então na hora de colocar na conta de alguém, lembre-se quem tomou esta inciativa.
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